15 de outubro de 2009

NO DIVÃ DAS PALAVRAS

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A IMAGEM, CORPO E A VIOLENCIA
Gilvaldo Quinzeiro






A “Imagem” é mãe, não do espelho, mas daquele que, sem este, não se (re)conheceria, isto é, do corpo, mas, não do corpo qualquer – o Corpo cujo imago é também a imagem do Outro, a saber, o homem. Dito de outra forma, o espelho, sem a imagem, é como a palavra sem o Outro.


Numa época em que as palavras se tornam escassas em comparação com a quantidade de coisas para serem significadas, “as imagens” se tornam não só prevalentes como até a sua “antropomorfização”, o tormento para Corpo que sem a mediação do Outro vive em si “o inferno” que antecede as palavras.


Fato este que nos faz retornar às condições de vida nas cavernas, onde o corpo era usado como “coisa em si”, para de si se (des)coisificar. Neste sentido, o corpo funciona também como substituto da mais arcaica ferramenta de trabalho e de guerra. Certamente, antes de o homem dominar o mundo com as palavras, o fez com o uso do corpo.


O que se observa no nosso tempo é a perplexidade, a “não-palavra”, diante da esmagadora quantidade de estímulos que não encontram meios adequados para se efetuar a descarga. “Bombas explosivas”, eis no que se constituem os corpos.


A violência é uma das consequências desta perda de referencial no mundo das palavras, e que atinge a todos, mas de modo especial aos jovens. Estes, sentindo-se despedaçados jogam seus corpos em batalhas sangrentas, como se fossem um simples brinquedo para obter, enfim, o esmagamento real do corpo - resposta sem palavras - ensaio para uma possível e nova civilização (?).


A violência é uma linguagem. Uma linguagem em resposta ao “que de si se perdeu, o que a si nunca pertenceu, num duelo pelo si para si com o não-outro”; tal como o cão que reage à perda do osso, para o outro cão que pelo osso fez de si o para si. Ou seja, sendo uma linguagem que antecede a fala que antecede ao sujeito, a violência se dirige ao “não - outro” que, pela sua falta, não edificou o “sujeito” e, este, por sua vez, se depara com o não-objeto que instala em si o si da falta.


Do anunciado acima chegamos à conclusão de que a violência é uma resposta ao “apagamento do sujeito” pela falta de alteridade. Em outras palavras, a violência é o “vir–a-ser” que já é em si o que não deveria ser, por não ter quem dialoga com ela.


Nos tempos primevos o paradigma do sujeito era a mãe-natureza, que por si só coincidia no que o homem se identificava; nos tempos atuais, porém, quem é a mãe dos homens? A resposta a esta pergunta não é a mesma que responderá as causas da violência?

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