3 de novembro de 2009

NO DIVÂ DAS PALAVRAS

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Gilvaldo Quinzeiro


NAS VÍSCERAS DO MEDO






Num mundo com seu “final” marcado, onde os mais convictos ou apressados já se antecipam a ele, entrar nas vísceras do medo que nos faz a todos reféns, significa colocar a engrenagem da “roda da existência humana” para girar, não obstante o toque das sinfonias fúnebres a se propagar.


Pois bem, no tempo em que as crianças brincavam de roda no meio do terreiro e os rapazes e moças “passavam fogo” ante a fogueira de São João, o único medo que castigava a todos era o de se deparar com o lobisomem nas noites de quinta-feira. Tal era o medo que até se ouvir falar do bicho se perdia o fôlego. Paradoxalmente, a maioria das casas nesta época nem se compara com as de hoje no que se refere ao quesito segurança. Na zona rural, por exemplo, a maioria das casas era coberta de palha de babaçu, bem como as paredes e, pasmem, até mesmo a porta era uma esteira (também de palha), cuja tranca era uma simples imbira de tucum amarrada. E o lobisomem? - Por incrível que pareça este nunca conseguia romper com a “segurança”!


Por outro lado, no duelo com o lobisomem, a arma mortal não era de fogo, punhal ou a espada, mas uma tira de couro amarrada na extremidade de um cacete – chamado de sim-quero-a-dor. Moral da história, o medo era compatível com as armas disponíveis!


Hoje, no entanto, qual o medo a nos tirar o fôlego? O medo “fabricado” é compatível com quais armas? Quem de fato possui as armas para o medo enfrentar? Quem “fabrica” o medo do qual todos somos reféns?


O fato é que nem as crianças brincam mais de roda e nem os rapazes e moças “passam fogo”, coincidentemente foi-se o tempo em que o lobisomem assombrava a todos. Hoje, no entanto, a roda que mais cresce é aquela dos que mascam chiclete para devorar entre os dentes os “fantasmas” que já não encontram nenhuma porta a arrombar!

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