14 de novembro de 2009

LEIS QUE LHES AMPAREM

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Tenho escrito sobre o distanciamento entre os políticos e os artistas da cidade. No entanto, um deles parece estar indo contra minhas nefastas constatações – mas, apenas parece. Refiro-me ao vereador Léo Barata, que esteve entre os patrocinadores do último espetáculo Improvisando, e mais recentemente no sucesso de público, mas não de crítica, Maria, Simplesmente Maria.


Por que a aproximação do mencionado vereador é apenas aparente? Por que o jovem político apenas repete um estado de coisas muito antigo que, na verdade, é a causa de a arte em Caxias estar atolada no buraco fétido de lama e decadente embrutecimento em que está. E é contra esta estrutura que, novamente, começo a escrever.


Tal estado de coisas consiste em manter inexistentes estruturas oficiais de apoio à arte e cultura. Não existem leis municipais que propiciem o subsídio de produções culturais e artísticas. Não há leis que ofereçam vantagens fiscais a empresas que apóiem a arte; nem verbas municipais destinadas ao financiamento público de artistas; nem programas de amparo a organizações que já desempenhem esta função. Não há programas de formação de público, nem de capacitação técnica para artistas. Sequer campanhas pela valorização do artista na cidade.


Inexistindo tais leis, a categoria produtora de arte e cultura fica à mercê dos favores de pessoas influentes. Ora um político, ora um empresário com aspirações políticas se interessa por aparentar apoio a grupos artísticos. No entanto, esse apoio é fictício: o grupo ou artista em questão fica refém da ajuda esporádica e incerta. Outras vezes, por amizade ou outros interesses pessoais, sujeitos endinheirados ou bem colocados no jogo político local oferecem sua mão a algum artista ou grupo. E neste caso, mais ainda, o artista está entregue á vontade de seu protetor. Pior, os demais artistas podem ser prejudicados se, por alguma razão, o protegido decide usar sua influência contra alguém.


De fato, muitos artistas na cidade, inclusive eu, devem favores a um ou outro que lhe socorreu num determinado momento. Mas o simples fato de haver necessidade de favores é um indicativo de o quão porca é a condição que sofrem os produtores culturais nesta cidade. O artista não quer os cem reais do bolso de ninguém. O artista não quer precisar da esmola mal dada de um figurão – ou figurinha – qualquer. O artista não deve precisar do dinheiro dos insensíveis. Seu papel na sociedade é fundamental, sua importância é tão grande que é difícil formular. É tempo de parar com esse clientelismo barato e humilhante.


O mencionado vereador, por ser jovem e demonstrar um interesse aparentemente inexistente em seus pares, despontou, para mim, como uma possibilidade de mudança. Mas, ele ainda tateia na poeira das velhas estruturas. Ele, como outros, vereadores ou não, contribui aqui ou ali com algum evento. Sim, mas a ação contundente e necessária, a ação condizente com sua posição de legislador, isso ainda não se viu. Nenhum projeto, nenhuma tentativa. Nenhum vislumbre de inteligência libertadora; apenas a inteligência rapina dos clientelistas se repetindo por mais uma geração.


Esta é uma condição indigna de uma democracia, pois fere a liberdade; é revoltante para quem pensa e insustentável para quem sofre. Se alguém puder ouvir, é hora de fazer alguma coisa. Mesmo que seja um texto que talvez nem seja lido. Mas é preciso nos remexermos sob os escombros, para que saibam que estamos enterrados, mas não estamos mortos. Para que saibam que há homens e mulheres de valor insondável nesta cidade – artistas genuínos –, e que sua dignidade está sendo ferida por este estado de coisas deplorável e demoníaco. Eles não querem favores, querem o que é direito seu: leis que lhes protejam, leis que lhes amparem, leis que lhes garantam a liberdade.






Isaac Rehl,
artista e homem livre.

1 comentários:

  • dezembro 29, 2009 10:54 da manhã
    leonardo barata says:

    Caro e nobre Isaac Rehi,

    Li com atenção seu artigo datado em 14 de novembro de 2009 com o titulo: "Leis que lhes aparem".
    Como Vereador mais jovem da Cidade e com o primeiro mandato de legislador na casa do Povo, quero informar-lhe da elaboração da "LEI DE INCENTIVO A CULTURA", idealizada por mim no inicio do mês de setembro e anunciada com bastante entusiasmo na II CONFERENCIA MUNICIPAL DE CULTURA realizada no Plenário da Câmara Municipal. Quero informar-lhe ainda que, no inicio de 2010 o projeto será apreciado pela casa e votada com parecer favorável e em seguida sancionada pelo Prefeito Humberto e assim concretizarmos um desejo que sempre tive quando chegasse a ser legislador. Afinal, sou um dos organizadores da Procissão do Fogaréu, sei de todas as dificuldades relacionados a este assunto.
    Aproveito o ensejo para parabenizá-lo pela crítica construtiva, tenho um grande anseio pelo desenvolvimento e valorização da cultura e nosso patrimônio histórico. E por esta razão, lutarei com garra e determinação para que este projeto se concretize. Estou aberto as críticas e sugestões.

    Satisfações meu nobre!

    Vereador Leonardo Barata
    sandro.lb10@hotmail.com

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