Visitei recentemente a cidade de Caxias das Aldeias Altas, após mais de trinta anos da viagem em que a conheci. Continuava linda, derramada em vales de flores perenes, por cima do morro do Alecrim com largas vistas. Caxias é um velho burgo do Maranhão, no limite com o Piauí, pelo médio Itapecuru. Chaman-na de Princesa do Sertão, e tem mesmo uma nobreza em suas contruções antigas, na localização, e na história repleta de insurreições idealistas. Supõe-se que a cidade tenha nascido -- no local de onde foram escorraçadas centenas de tribos indígenas que ali viviam, como os Guanarés --, de uma escola fundada pelo padre Malagrita em 1742, com uma presença histórica de portugueses letrados. Se for verdadeiro este fato, talvez possa explicar ali terem nascido tutelares na literatura, como Coelho Neto e Gonçalves Dias -- este, personagem de um romance que escrvi, em parte inspirada por ecos de minha passagem pela cidade, na juventude.
Fui a convite de gentis moradores, e instituições caxienses, para falar de minha relação com o grande poeta e visitar o local de seu nascimento. Gonçalves Dias nasceu num tempo tristemente interessante, de guerras ligadas à Independência, e seu pai, português amasiado com uma mestiça brasileira, precisou fugir levando a mulher mato adentro , prestes a dar à luz. Venceram trilhas, abriram caminhos, atravessaram águas, subiram colinas, até o sítio onde se localizava a casa do irmão do português, e, dizem os moradores locais, perto de aldeias quilombolas de onde teria se originado a mãe de Gonçalves Dias. refiz esse caminho, por uma nova estrada onde passa carro, acompanhada de parte da elite intelectual caxiense, incrivelmente bem-humorada e afiada na inteligência, a fazer de suas tiradas brilhantes naquele belo português maranhense. Parecia que Gonçalves dias estava ali, conosco. Mesmo porque, um dos poetas da Academia era quase seu sósia, até nos gestos e no modo de falar lembrando o século 19.
O local de nascimento de Gonçalves Dias tem uma atmosfera impressionante. É uma clareira, no alto de um morro, onde não há nem mais ruínas do antigo sítio, apenas um marco de pedra, com os dizeres, "Aqui nasceu Antonio Gonçalves Dias, O Imperador da Lira Americana, em 10/08/1823", ali posta no centenário de sua morte, pela prefeitura. Ver aquele isolamento, abandono, as duras condições de nascimento do poeta, faz pensar as incríveis maquinações do fado.
Ana Miranda é romancista, autora de Boca do Inferno, Desmundo
e Dias e Dias (baseado na biografia de Gonçalves Dias).Esta crônica
sobre sua passagem em Caxias, por ocasião da Feira do Livro,
Salic e Proler, foi publicada na revista Caros Amigos.
poxa, que coisa boa nossa velha e vivida caxias sendo explorada por ilustres visitantes,eu aqui de muito longe sentindo a mesma sensação, aqui na paraiba,mais precisamente no beço da educação paraibana como é conheçida a cidade de cajazeiras,um abraço, jr.