20 de março de 2011

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FLORESCIMENTO CULTURAL E FALÁCIAS DEMAGÓGICAS


Durante o século XVI, a cidade de Florença, na Itália, experimentou um período semelhantemente fértil – tão fértil que é até hoje conhecido como Renascimento Cultural. Já no século XVIII, foi a Paris de Luís XIV, o Rei Sol, quem teve sua época de iluminação artística e cultural. Poderíamos elencar diversos momentos em que determinadas sociedades passam por épocas de admirável fertilidade cultural e produzem obras de grande importância – glória para si, bênção para a humanidade. Mas, o que, efetivamente, gera esses picos de criatividade? Quais as causas reais de um verdadeiro florescimento cultural? Seria a iluminação da luz divina, que bondosamente apontada para uma cidade, um país, um povo, torna-o tão apto a criar? Ou seria a presença de um Espírito da Comunidade que escolhe e inspira as pessoas?
Talvez haja o espírito de Caxias, que faça proliferar os poetas. Mas, sinceramente, penso que o florescimento cultural hebreu, florentino, francês, bem como todo e qualquer florescimento cultural está diretamente relacionado a um fator muito mais prosaico do que a magia das musas: o dinheiro. Foi o sólido investimento de Salomão que produziu o período áureo da cultura israelita; foi o dinheiro dos mecenas investidos no trabalho e no sustento de Da Vinci, Michelangelo e Rafael que possibilitou a existência da cultura ocidental, tal qual ele é hoje; foi o tino propagandístico de Luís XIV, e os recursos da coroa, bem aplicados em Moliere e outros artistas, que fizeram irradiar a luz solar de Versalhes, naquela época.
De nada adianta tanto floreio sobre a terra dos poetas e suas incomensuravelmente ricas tradições literárias – nada disso passará de discurso vazio, ou demagógico, ou ingênuo, se não vier acompanhada de ações concretas que ofereçam as bases materiais para a produção artística. E tais ações devem partir de pessoas que possuem os poderes necessários à sua implementação: a categoria dos políticos e dos empresários, detentores do poder político e econômico da sociedade. Seja o financiamento público, como no caso de Salomão, seja o privado, como no caso dos mecenas italianos, é fundamental que haja investimentos nos artistas locais, ou a ladainha em torno das riquezas culturais de Caxias nunca vão passar de ufanismo falacioso e demagogia.

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