13 de outubro de 2009

CRÔNICA DA SEMANA

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Uma voz no deserto
Gentil Meneses, junho de 1959

Não desejo coordenar épocas e fatos, nem remontar aos distanciados dias em que Caxias mereceu realmente o título de "Princesa dos Sertões". Sua alteza já não tem as falanges engastadas de esmeraldas, nem ostenta, por certo, nas augustas mãos, o cetro imperial. N]ao é mais a Princesa de real grandeza, mas sim uma velhinha de cabelos brancos e rugas na face triste, por onde vão rolando as desilusões e as esperanças mais fagueiras.

Caxias se ufanava, como nenhuma outra cidade no interior do estado, de possuir seu parque industrial próprio, constituído de quatro grandes fábricas de tecido em pleno e próspero funcionamento.

Três de nossas fábricas desapareceram. Suas atividades foram encerradas, irremediavelmente, para sempre. Seus materiais, tais como teares, cardas, caldeiras, está sendo vendido para terras longínquas, onde o progresso vem encontrando profundas ressonâncias no espírito dinâmico do nordestino.

Molhei com lágrimas o chão da praça "Dias Carneiro", quando vi partirem daqui dois caminhões carregados de peças e acessórios importantes de nossas fábricas.O espetáculo é de entristecer. Representa para nos a decadênica,o aniquilamento, o abismo para o qual vamos marchando a pasos largos.

O barulho dos teares, outrora um movimento constante, já ão ressoa aos nossos ouvidos num compasso feroz de música, de música poderosa e bárbara, que se assemelhava a um hino de louvor ao homem. ao operário, testemunhando sua força vital exuberante.

O fechamento dessas fábricas, para seus operários, não foi apenas um acidente, mas sim um descalabro. E para nós outros, responsáveis, aparentemente, pelo fato, isso representa um atestado do desamparo em que nos encontramos, o campo deserto de cooperação Mas,em que trabalhamos e vivemos.

Mas, o problema realmente mais grave, ao que me parece, é essa incapacidade de se ver o sentido profundo das coisas. É ficarmos de braços cruzados, esperado que os problemas se resolvam por si mesmos à custa de esperarem soluções. Hesitamos diante da evidência dos fatos. É ridícuo presenciarmos o descalabro, sem tomarmos uma providência séria.

Infelizmente é o individualismo que reina entre nós. Cada um quer devorar o outro numa luta febril, num corpo a corpo mudo e obstinado.

Não nos faltam homens experientes, espíritos ponderados e, sobretudo, capacidade de trabalho. Mas, falta espírito de abnegação, amor à tera comum, congregação de esforços em prol da causa coletiva, da recuperação econômica da velha cidade de gloriosas tradições.

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